LAPINHA DA SERRA – MG

*Por Roberta Araujo

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Lapinha da Serra é um vilarejo que fica no distrito de Santana do Riacho, na região da Serra do Cipó. A distância de Belo Horizonte é de 132 quilômetros, sendo 40 quilômetros de estrada de terra. É um lugar para quem gosta de curtir a natureza, reunir os amigos em um acampamento e renovar as energias nas águas das cachoeiras. A estrada é boa, e o trecho de terra que poderia dar um pouco de trabalho – uma subida íngreme – foi calçada justamente para facilitar o acesso dos turistas. A área é protegida por duas unidades de conservação federais, o Parque Nacional da Serra do Cipó e a Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira.

 

Lapinha é pequeno, bem humilde e começou a ser povoado em 1759. O ritmo interiorano da comunidade se mistura ao vai e vem de turistas. Uma das principais normas é reforçada a todo momento por meio de placas:  respeite os moradores, não transite no povoado com roupas de banho. Achei justo. Para atender o volume de visitantes, há vários restaurantes, bares, áreas de camping e locais para hospedagem. Outra regra básica é a proibição de banho entre 18h e 20h, porque sobrecarrega a vila. Não há fiscais, vai do bom senso de cada um.

 

Existem lá alguns guias como o Bruno, do Bambu Aventura, que tem área de camping, equipamentos para rapel, barcos e todo aparato necessário para os passeios. Nos feriados, ele faz uma programação para todo o período, abrangendo os principais pontos turísticos da região, e essa programação fica afixada nos bares da cidade. Nesses mesmos locais você pode adquirir um mapa da região por R$9 que traz informações sobre as cachoeiras e passeios. Somente quando vi o mapa me dei conta da variedade de passeios que tem para se fazer por ali. Com todos os níveis de dificuldade, alguns levam horas, outros duram dias! Um exemplo é a travessia de Lapinha da Serra à Cachoeira de Tabuleiro, com duração de dois a três dias. Tem também um passeio de barco que leva o visitante às pinturas rupestres, caminhada até a cachoeira Bicame, cachoreira do Lageado, entre outros. Os passeios com guia custam, em média, R$60.

 

Na oportunidade, subi o Pico da Lapinha, que são 6 horas de caminhada (ida e volta), grau de dificuldade moderado. Trata-se do segundo pico mais alto da região, com 1686 metros de altura. Nele, o aventureiro encontra caminhos rochosos, campos abertos do cerrado rupestre – vegetação típica da região –, barrancos, subidas íngremes e uma vista maravilhosa da represa embrenhando entre as montanhas. Quem sobe esse pico tem que estar disposto a sujar o tênis e a roupa e saber que precisa do apoio das mãos em vários trechos. O caminho é sinalizado com placas, e os próprios visitantes fazem montinhos com pedras ao longo de todo percurso indicando que você está no caminho certo. O grau de dificuldade da caminhada exige que a gente ande olhando para o chão o tempo todo. Por esse motivo, é importante parar por alguns minutos para olhar ao redor e contemplar a vista, que muda muito rapidamente.

 

Os últimos metros são muito difíceis de passar, com barrancos e penhascos. Me contentei com a vista de mais ou menos 1676 metros de altura, que é uma visão libertadora: montanhas por toda parte – até onde a vista alcança – rasgadas pela represa e com “apliques” de povoados aqui e ali. Depois da sensação única e indescritível de estar lá em cima, ainda é preciso ter pernas para fazer o caminho inverso. No fim desse trajeto você nem se importa em entrar na água gélida dos poços.

 

Quanto à gastronomia, um lugar aconchegante para jantar é a Confraria Paladino. Lá descobri algo importante sobre Lapinha da Serra. A informação estava escrita no cardápio, ilustrada com o desenho de uma lesma, e dizia “Slow Food”. A mensagem é, se você veio para desacelerar achou o lugar certo: o ritmo do povoado é outro e, aqui, a comida demora para ser servida. Aproveite! Uma ironia ao nosso estilo de vida, um exercício de paciência e resistência para quem está acostumado com o Fast Food. A casa também serve chás maravilhosos e, de brinde, a companhia do Biscoito, um cachorrinho muito simpático, que fica quietinho do seu lado na esperança de um agradinho. Outra opção de jantar sensacional para os visitantes é o cardápio de massas do Camping das Bromélias, que não restringe as refeições do restaurante apenas para quem se hospeda lá. Capeletti, canelone, massas caseiras, boa apresentação e sabor único.

 

Superei as minhas expectativas e voltei muito contente com as lembranças que trouxe desse lugar. Descobri o gosto por caminhada longa e lugar alto. Vale a pena incluir Lapinha da Serra no roteiro de viagem!