DE BAR EM BAR

Por Mariana Alencar

bar bhHora do almoço, Centro de Belo Horizonte, Minas Gerais. O sol a pino parece não incomodar a multidão que transita pelas ruas da região. É tanta gente com o passo apressado que quase não é possível reparar no que se abriga nas calçadas. Durante o dia, os bares do Centro de BH parecem respirar com ajuda de aparelhos. Dois ou três senhores de idade ocupam as mesas de cada boteco localizado na avenida Augusto de Lima, entre a rua da Bahia e a praça Raul Soares.

Na medida em que o sol se põe, a paisagem urbana do Centro da capital se modifica. Durante a noite, a multidão que ocupava as ruas descansa em suas casas, provavelmente em bares mais afastados. Em contrapartida, as calçadas ganham mais mesas que, aos poucos, vão sendo preenchidas por aqueles que almejam uma cerveja após o expediente. Antônio Prata já havia dito em uma de suas crônicas mais memoráveis que “bar ruim é lindo, bicho!”, e eu, moradora do Centro de Belo Horizonte, não posso deixar de concordar. De alguns anos para cá, a avenida Augusto de Lima vem sendo frequentada por um público diverso, estereotipado na figura de jovens, universitários e boêmios em geral.

Nas proximidades da rua da Bahia, a avenida abriga o tradicional edifício Arcangelo Maletta. Nos últimos cinco anos, o interesse das pessoas pelo Maletta cresceu devido à abertura de bares e restaurantes na sobreloja. Com isso, o prédio voltou a entrar no cenário cultural e noturno da cidade. Hoje, é difícil conseguir uma mesa nas noites de fim de semana. Por causa disso, outros botecos da avenida ganharam um novo público.

Entre as ruas São Paulo e Curitiba, há o Banzai e o Bar da Cledir. Ainda que muitos vejam com olhos preconceituosos esses dois expoentes da zona boêmia belorizontina, os botecos são conhecidos pelos baixos preços e por abraçar a diversidade. Há ali artistas de ruas, transeuntes bêbados, estudantes sonhadores que discutem com avidez o que será da vida depois que se formarem e há também espécies representantes da tradicional família mineira. A cerveja barata, a porção farta de batata frita com queijo e a localização fazem com que esses botecos ganhem um público diferente do que os proprietários estavam acostumados.

Voltando aos escritos de Prata, o problema é que uma hora o preço aumenta, as calçadas ficam tão cheias que achar uma mesa é mais difícil que encarar o banheiro desses botecos. Entretanto, o bom de morar em Belo Horizonte é que sempre haverá um novo boteco, com copo americano, porção de linguiça engordurada e um tiozão tocando uma viola velha ao seu lado. E aí mandamos um whatsapp para a turma inteira e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.